“ERA UMA VEZ EM… HOLLYWOOD” É A CARTA DE AMOR DE QUENTIN TARANTINO AO CINEMA.
Quando “Cães de Aluguel” foi lançado em 1992, a sétima arte testemunhou a ascensão daquele o qual viria se tornar um dos diretores mais icônicos de todos os tempos: Quentin Tarantino. Mas só atrairia atenção mesmo, dois anos depois, com Pulp Fiction. Após isso, Tarantino se aventurou no campo das adaptações (”Jackie Brown”), homenageou os filmes de artes marciais (”Kill Bill Volumes 1 e 2”), reescreveu o que se aprende nos livros de história (”Bastardos Inglórios”), homenageou os faroestes (”Django Livre”) e fez uma película com um aspecto teatral (”Os oito Odiados”). Agora, com a estreia de seu nono filme, ”Era Uma Vez em… Hollywood’, nada mais justo do que o diretor homenagear o cinema como um todo.
Com o cancelamento de seu seriado de Bang Bang, Rick Dalton (Leonardo Dicaprio) tenta seguir a carreira de ator em Hollywood ao lado de Cliff Booth (Brad Pitt), o seu dublê e amigo inseparável. Ambos precisam acompanhar as mudanças de suas vidas simultaneamente às transformações sofridas pela indústria cinematográfica. Além disso, um homem misterioso chamado Charlie (Damon Herriman), possui um misterioso interesse pelos vizinhos de Dalton, Sharon Tate (Margot Robbie) e Roman Polański (Rafal Zawierucha). Assim como os outros filmes do cineasta, as narrativas distintas se interconectam, culminando em um final surpreendente.
Novamente, as normas convencionais narrativas não parecem se aplicar ao Tarantino. Alguns poderiam argumentar que o diretor opera sob a filosofia ”estilo sobre substância”, pois ”Era Uma Vez em… Hollywood” possui inúmeras cenas com personagens dirigindo carros e ouvindo transmissões de rádio da época, as quais não contribuem para o desenvolvimento da trama, porém servem perfeitamente para fundamentar a construção do seu mundo. O rádio, os modelos de carro, as celebridades da época, os cinemas, os bastidores, a direção de arte de Barbara Ling recria perfeitamente esse período e os movimentos de câmera do cineasta introduzem uma linguagem própria e fazem com que o espectador se sintam parte daquilo que está sendo mostrado na tela cinza. apenas por esses fatores, já se torna uma experiência memorável.
Mas o que seria um longa sem o seu elenco? Com bastante humor, Leonardo Dicaprio se reinventa no papel de Rick Dalton, trazendo uma certa melancolia cômica contrastada com a personalidade mais durona de Cliff Booth, brilhantemente interpretado por Brad Pitt. Ambos formam uma dupla memorável, tal qual Samuel L Jackson e John Travolta foram em ”Pulp Fiction”. Talvez Dicaprio esteja em sua melhor performance desde ”Diamante de Sangue”. Quanto ao resto há algumas reinterpretações de celebridades as quais não condizem com a realidade, mas obedecem perfeitamente o tom proposto pela narrativa. A mais interessante com certeza é Margot Robbie como Sharon Tate, a qual quase não possui falas.
Isso dá a impressão de que o talento de Robbie, potencializado em ”Eu, Tonya (2017)”, seja desperdiçado aqui. É um pouco frustrante a personagem não possuir ao menos um monólogo marcante, característica presente em todas as produções do autor. Entretanto, nenhuma cena da personagem sentada em um cinema, assistindo a um de seus filmes, é em vão. Todas possuem um propósito de subverter as expectativas de quem está assistindo. Por que? Por que ”Era uma vez em… Hollywood” reconta o assassinato de Sharon Tate pelas maos de Tex Watson (Austin Butler), Susan Atkins (Mikey Madison) e Patricia Krenwinkel (Madison Beaty). Contudo, tal qual ”Bastardos Inglorios”, Tarantino reconta fatos históricos sob a ótica de novos personagens e reescreve os fatos históricos ao seu bel prazer acarretando na ideia de que ele está sempre a dois passos à frente do espectador e gerando surpresa. Até mesmo quem não conhece sobre o caso Tate-LaBianca, ficará boquiaberto.
Logo, conclui-se que ”Era Uma Vez em… Hollywood”reafirma a constante magistralidade de Quentin Tarantino como contador de história. É mais uma grande adição a sua filmografia, um filme com uma atmosfera envolvente, repleto de humor vindo dos seus personagens extremamente carismáticos, desafiando as convencionalidades narrativas da indústria, com uma certa dose de licença poética. Não é apenas uma carta de amor ao cinema, também é uma das melhores experiências cinematográficas do ano.
Ficha do Escritor
Aluno: João Guilherme Fidelis
Turma: 2˚ ano [2019]
Idade: 17 anos
Adicionais: Também escreve para a Torre de Vigilância.
Ficha Técnica
Título: ”Era Uma Vez em… Hollywood”
Ano: 2019
Direção: Quentin Tarantino
Duração: 161 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
Gênero: Drama, comédia
Elenco: Leonardo Dicaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Rafal Zawierucha, Al Pacino, Damon Herriman, Margaret Qualley, Dakota Fanning, Kurt Russel.